7 de nov. de 2013

Macarrão com salsichas

"O que esperar de um mundo que te recebe com um tapa no rabo?" , resmungou ele enquanto apagava o cigarro em um cinzeiro já cheio na estante..."não faço ideia" respondeu ela enchia um prato de cada vez. O menu do jantar; macarrão com salsicha, um clássico, tal qual o clássico que tocava na velha vitrola, em meios a chiados e zumbidos ouvia-se uma orquestra, se tocavam Beethoven, Wagner ou mesmo Mozart
era quase impossível de decifrar,mas, ainda assim tocava . Com dois garfos a dita macarronada  era transferida para os pratos, grandes gotas vermelhas de molho pichavam o fogão... ele sentou, ela colocou os pratos na pequena mesa. Ela mexeu seu corpo até a geladeira, ele a observava, reparava como seu corpo, sua bunda se comportava dentro do vestido, de como se remexia naturalmente..."continua muito gostosa", pensou ele , lembrando da primeira vez que a viu, um sorriso discreto e mudo em sua boca, lembrou-se de que só conseguiu dormir, depois de homenagia-la...ela abriu a porta da geladeira, pegou uma dessas garrafas retornáveis,uma garrafa de bebida condenada pelos comunistas, a coca-cola repousou sobre a mesa, ela sentou-se ...não rezaram em uma sincronia começaram a comer.Lá fora as musicas, sons de festa e as luzes brilhantes , pulsantes , coloridas e feias  indicavam que era noite de natal...pra eles estas comemorações não faziam muito sentido e se algum velho de vermelho ou até mesmo o tal do menino Jesus passassem pela porta, corriam o risco de tomarem alguns socos.
Ele olhava pra ela o tempo inteiro durante o jantar, macarrão, muito molho, salsicha e um queijo ralado que estava repousado a pelo menos quinze dias na geladeira...A mesa parecia cercada de tensão, uma conversava ameaça a sair, mas, das bocas sujas de molho nenhuma palavra saltava, muitas coisas precisavam ser ditas, todas elas engolidas como macarrão e salsicha..."este é o momento certo de dizer? de falar?" esta questão o perturbava, a perturbava, mas será que existe momento certo pra se dizer o que sufoca?
Comiam em silencio,bebiam em silencio, cada comodo da casa se enchia de um zumbido que mascarava um grande clássico da musica...Bach? Vivaldi?  Tudo estava confortavelmente desconfortável...
"outro dia encontrei sua amiga Ana no banco"
"e como ela esta?"
"bem,disse pra passarmos lá qualquer hora dessas pra almoçarmos"
"quem sabe..."
Terminaram o jantar, ela pegou o cinzeiro,o cigarro e o isqueiro..."ainda tem algum baseado?", "em cima do criado mudo, do meu lado da cama" respondeu ele enquanto procurava uma faca boa pra descascar uma laranja que achara perdida na geladeira, sentaram ambos um do lado do outro no sofá. Ela acendeu, ele descascou, ela fumou, ele chupou a laranja, ela deu um trago, ele jogou  o bagaço na mesa de centro, ela gritou,ele a esfaqueava as costelas, ela agonizava, a musica enfim acabava..enquanto o sangue manchava o sofá, o vestido, ele a beijou a testa, disse que a amava no ouvido, se levantou, foi ao banheiro mijar, e se enforcar...por fim era a 9ª de Beethoven...

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